“Hoje foi o 1º encontro
prático, ou semi-prático, com a Cia. Stravaganza. Foi estranho e maravilhoso ao
mesmo tempo. Queria trabalhar com eles a forma do relato, a forma (ou formas
possíveis) de contar uma história, pessoal ou não.
Havia pedido pra
que cada um relatasse uma experiência. Eles, stravagantes que são, criaram
cenário, luz e instalaram o microfone pra isso que seria um simples “contar uma
experiência”.
Quando começaram
a falar, meu interesse pela forma ficou tão pequeno se comparado ao conteúdo do
relato deles, ao que estava sendo dito, que meus objetivos “formais” foram por
água abaixo logo no início.
Ver aquelas
pessoas ali, tão belas, tão abertas, contando-nos algo íntimo seu de modo tão
honesto, superou qualquer tentativa formal minha. Experiências de vida e morte,
de nascimento e perda, de solidão, amor e desamor, histórias de medo e traição,
histórias engraçadas, tristes, de esperança e de superação, histórias de tentar
se conhecer e histórias de não conseguir se revelar. Tão forte e impactante. Tão
engraçadas algumas. Pessoas contando coisas que lhe marcaram. Colegas rindo,
colegas chorando, colegas atentos e colegas embarcando em viagens suscitadas
pelas experiências do outro. E depois, se apropriar rapidamente da história de
alguém e contá-la como se fosse sua. O famoso “como se” do teatro e da vida.
“Como se fosse comigo”, “como se me importasse”, “como se me tocasse”, “como se
eu pudesse fazer algo”. Sempre sendo gravados pelos olhos atentos de outro
colega, que se revezavam para construir nossa experiência coletiva,
colaborativa, cooperativa, participativa, ativa, seja lá o nome que queiramos
dar.
Me senti
entrando na casa deles, descobrindo uma família unida, provavelmente em crise
constante, mas loucos uns pelos outros. Buscadores.
Sei algo deles
que talvez eu nunca saiba daqueles com quem vivo/convivo, eles sabem algo de
mim que eu desconheço, segredos expressos no silêncio. Um pacto firmado no
olhar. Pra mim, o teatro é um ato de confiança, um ato de amor, de entrega. Agora
podemos começar.
Me apaixonei
pelo tom de voz de um, pelo olhar do outro, pelo corpo vivo de um, pela timidez
do outro, pela presença e pelo medo de se entregar. Aonde pode isso levar? Como
incluir música, corpo, voz, ação!? Tudo o que precisamos ainda descobrir.
Observo-os atentamente. Quero aproveitar o melhor de cada um, mas também
provocá-los. Isso não é uma batalha. Aqui não vence o melhor. Ou crescemos
todos, ou ficamos juntos na inércia, no terreno confortável e linear. Quero a
curva! Quero o desconhecido, quero saber e não saber ao mesmo tempo. Como
desafiar cada um na medida certa pra que cresça, pra que vire um gigante em
cena, pra que vire uma borboleta, pra que se transforme, como artista e como
indivíduo? Como fazer com que cheguemos, todos juntos, mais longe do que nunca?
Como fazer para que cada um supere suas limitações, indo alem? Isto tudo já me
supera, me leva ao desequilíbrio, me reclama transformação e me deixa incrivelmente
feliz.
Neste dia,
descobri pouco sobre forma, mas me apaixonei pelo elenco e pelo nosso projeto.
Parece pouco?
(16/01/2012)”
Nossa, Camila Bauer! Amei teu texto, amei do fundo do meu coração, amo tuas palavras, amo sempre estar perto de ti de alguma forma... Lindo esse texto. Obrigada!
ResponderExcluirAmei essa parte: "Sei algo deles que talvez eu nunca saiba daqueles com quem vivo/convivo, eles sabem algo de mim que eu desconheço, segredos expressos no silêncio. Um pacto firmado no olhar. Pra mim, o teatro é um ato de confiança, um ato de amor, de entrega. Agora podemos começar."