terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Forma-Conteúdo…. PAIXÃO! (por Camila Bauer)

Tinha ficado de publicar coisas no blog mas, como nunca escrevi num blog, as coisas foram se acumulando. Comento agora as primeiras impressões de nosso primeiro ensaio estremecido, dia 16/01!

“Hoje foi o 1º encontro prático, ou semi-prático, com a Cia. Stravaganza. Foi estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. Queria trabalhar com eles a forma do relato, a forma (ou formas possíveis) de contar uma história, pessoal ou não.
Havia pedido pra que cada um relatasse uma experiência. Eles, stravagantes que são, criaram cenário, luz e instalaram o microfone pra isso que seria um simples “contar uma experiência”.
Quando começaram a falar, meu interesse pela forma ficou tão pequeno se comparado ao conteúdo do relato deles, ao que estava sendo dito, que meus objetivos “formais” foram por água abaixo logo no início.
Ver aquelas pessoas ali, tão belas, tão abertas, contando-nos algo íntimo seu de modo tão honesto, superou qualquer tentativa formal minha. Experiências de vida e morte, de nascimento e perda, de solidão, amor e desamor, histórias de medo e traição, histórias engraçadas, tristes, de esperança e de superação, histórias de tentar se conhecer e histórias de não conseguir se revelar. Tão forte e impactante. Tão engraçadas algumas. Pessoas contando coisas que lhe marcaram. Colegas rindo, colegas chorando, colegas atentos e colegas embarcando em viagens suscitadas pelas experiências do outro. E depois, se apropriar rapidamente da história de alguém e contá-la como se fosse sua. O famoso “como se” do teatro e da vida. “Como se fosse comigo”, “como se me importasse”, “como se me tocasse”, “como se eu pudesse fazer algo”. Sempre sendo gravados pelos olhos atentos de outro colega, que se revezavam para construir nossa experiência coletiva, colaborativa, cooperativa, participativa, ativa, seja lá o nome que queiramos dar.
Me senti entrando na casa deles, descobrindo uma família unida, provavelmente em crise constante, mas loucos uns pelos outros. Buscadores.
Sei algo deles que talvez eu nunca saiba daqueles com quem vivo/convivo, eles sabem algo de mim que eu desconheço, segredos expressos no silêncio. Um pacto firmado no olhar. Pra mim, o teatro é um ato de confiança, um ato de amor, de entrega. Agora podemos começar.
Me apaixonei pelo tom de voz de um, pelo olhar do outro, pelo corpo vivo de um, pela timidez do outro, pela presença e pelo medo de se entregar. Aonde pode isso levar? Como incluir música, corpo, voz, ação!? Tudo o que precisamos ainda descobrir. Observo-os atentamente. Quero aproveitar o melhor de cada um, mas também provocá-los. Isso não é uma batalha. Aqui não vence o melhor. Ou crescemos todos, ou ficamos juntos na inércia, no terreno confortável e linear. Quero a curva! Quero o desconhecido, quero saber e não saber ao mesmo tempo. Como desafiar cada um na medida certa pra que cresça, pra que vire um gigante em cena, pra que vire uma borboleta, pra que se transforme, como artista e como indivíduo? Como fazer com que cheguemos, todos juntos, mais longe do que nunca? Como fazer para que cada um supere suas limitações, indo alem? Isto tudo já me supera, me leva ao desequilíbrio, me reclama transformação e me deixa incrivelmente feliz.
Neste dia, descobri pouco sobre forma, mas me apaixonei pelo elenco e pelo nosso projeto.
Parece pouco? (16/01/2012)”

Um comentário:

  1. Nossa, Camila Bauer! Amei teu texto, amei do fundo do meu coração, amo tuas palavras, amo sempre estar perto de ti de alguma forma... Lindo esse texto. Obrigada!

    Amei essa parte: "Sei algo deles que talvez eu nunca saiba daqueles com quem vivo/convivo, eles sabem algo de mim que eu desconheço, segredos expressos no silêncio. Um pacto firmado no olhar. Pra mim, o teatro é um ato de confiança, um ato de amor, de entrega. Agora podemos começar."

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